quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Primeira Dose

“Cálice” é uma canção escrita e interpretada por Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973. Na canção percebe-se um elaborado jogo de palavras para despistar a censura da ditadura militar. A canção teve sua execução proibida durante anos no Brasil.
Gilberto Gil, em entrevista que de tão antiga nem lembro quando nem pra quem, apontou que na música, há dois aspectos: uma dor pessoal e uma dor exterior. “Cálice” traduz em seu ver, o sentido genérico da dor. Para termos uma idéia, Gil não consegue cantar “Cálice” em público, porque para ele a música remete à idéia de sofrimento. Ela “nasceu” numa sexta-feira da paixão.

Vejamos o trecho da entrevista (esta parte eu consegui a duras penas!!):
“A música nasceu uma sexta-feira da paixão.Chico Buarque tinha ido assistir na véspera a um show meu, para a gente pensar na realização de uma música. Fiquei em casa na sexta-feira da Paixão, meditando, meditando, até que a dificuldade de fazer a música me fez lembrar do sofrimento do Cristo no Horto das Oliveiras.Tive então a idéia da primeira frase : “Pai, afasta de mim esse cálice/Afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue”. Um dia depois,no sábado de Aleluia, levei a frase para a casa de Chico – que morava ali na Lagoa. Daí é que surgiu a frase que vem mais adiante : “Ver emergir o monstro da Lagoa”. Porque Chico,como eu disse,morava ali defronte. A música foi feita num período difícil,em meio à censura, à ditadura, à perseguição em cima da gente,numa louca sexta-feira da paixão”.
“Cálice” é portanto uma música que expressa uma dor política…

A expressão –Cálice- constantemente repetida na música, é metáfora para a expressão Cale-se! Numa crítica à forte censura aplicada aos cantores na época da Ditadura Militar.
E entre versos de pura metáfora temos: “Como beber dessa bebida amarga, tragar a dor engolir a labuta”, remetendo ao questionamento de como suportar a censura, a crueldade, aceitar como se fosse normal… (…)
“Mesmo calada a boca, resta o peito” (…), verso que aponta o sentido de que os que protestavam podem não falar o que sentem e o que acham de tudo aquilo, mas o peito jamais esconde o que sente.

Ainda:Como é díficil acordar calado, se na calada da noite eu me dano” … que remete a idéia de que os protestos eram realizados à noite.

Uma parte da música que gosto muito e que representa até hoje a inércia do Estado é: "De muito gorda a porca já não anda...de muito usada a faca já não corta"... onde se vê que o Estado, gordo em receitas e número de funcionários, já não consegue caminhar para satisfazer o bem comum"

E dentre tantos versos que deixo livre à interpretação de cada um, temos um que se destaca genuínamente:
Quero perder de vez tua cabeça, Minha cabeça perder teu juízo, Quero cheirar fumaça de óleo diesel, Me embriagar até que alguem me esqueça.”
Quem não se lembra de Stuart Angel Jones, pelo menos conhece Zuzu Angel, sua mãe… Chico nestes versos denunciou a tortura sofrida por Stuart, na Báse Aérea do Galeão… ele foi arrastado por um jipe, amarrado ao cano de descarga do veículo, obrigado a “cheirar fumaça de óleo diesel”, intoxicado até agonizar.

Daí temos o Pileque Homérico…
Observemos… A embriaguez da época, o ensejo de mudanças, os protestos pelo uso discriminado da máquina pública, a presença de aviltantes condutas contra a democracia, a liberdade de expressão, ao assassínio da cidadania e da segurança, dos direitos e do amor entre os cidadãos e povos!
As desgraças daquela época ainda existem.
Diariamente somos assombrados com notícias que beiram à ditadura disfarçada. Temos requintes de crueldade em cada esquina, desobediência às Instituições Democráticas alarmantes…
Eis então que se deve despertar as consciências, que flagremos a realidade maquiada que vivemos. Que evoluamos para construir decência onde reina a indecência.
Em verdade ainda, no íntimo, dizemos ainda aquelas conclamas: “Pai, afasta de mim este cálice”.
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É tempo de começar uma nova etapa

Há muito me recomendam a criação de um blog para exposição das idéias, estudos, aulas, materiais de preparatórios para concursos (e das aulas da Faculdade).
Meu ensejo é criar um espaço para discussão, trocas de idéias, conhecimentos e experiências acadêmicas e profissionais.
O nome do blog não é por acaso. Retirada a expressão da música "Cálice", de Chico Buarque, representa os ideais alhures escondidos na mente daqueles jovens de outrora, que ainda permanecem vivos no coração dos estudiosos da nova aurora e, como que embriagados pelas suas idéias, deliram no anseio de melhorar essa Nação.
Que este blog seja ponto de referência para estudos, reflexões e novos horizontes.

Brindemos esse pileque homérico do mundo.


Ps.:
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